quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Trecho de "Hamlet", Shakespeare


Onde há um salgueiro que se inclina sobre o arroio

E espalha as folhas cinza na corrente vítrea,

Ela fazia umas grinaldas fantasiosas,

Tecendo as folhas do chorão com margaridas,

Ranúnculos, urtigas, e as compridas flores

De cor purpúrea que os pastores, sem modéstia,

Chamam com um nome forte, mas que as nossas virgens

Conhecem, castas, como “dedos-de-defunto”.

Galgando a árvore com o fim de pendurar

Essa coroa vegetal nos ramos pensos,

Maldoso um galho se partiu, e ela tombou

Com seus troféus herbóreos no plangente arroio.

Abriram-se-lhe em torno as vestes, amplamente,

Mantendo-a à tona qual sereia, por instantes:

E ela cantava trechos de canções antigas,

Como que sem noção do transe em que se achava,

Ou como criatura que, nascida na água,

A esse elemento fosse afeita. Mas, em breve,

As suas vestes, já embebidas e pesadas,

Levaram a infeliz, do canto melodioso

Para lodosa morte.