segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Aqueles Dois, Caio F.



Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra — talvez por isso, quem sabe?...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Satolep, Vitor Ramil



Eu, que vivo no gasômetro, tenho tomado distância de tudo o que é sólido. À margem das formas, sou reservatório de coisas desfeitas.
É meu o rosto líquido que vejo na poça de chuva esquecida pela terra sob minha janela, rosto de quem quis infinitamente comprimir os fluidos da vida na esperança de guardá-la.
No gasômetro as coisas não são sólidas, mas custam a passar. Hoje um grito de criança, sumido da varanda em meu passado, veio vibrar sobre o telhado como o canto de uma ave vindo organizar no ninho antes de morrer; ontem, foi um pardal que desceu na água. Ainda posso vê-lo, agora que partiu, capturado pela luz no álbum aberto dessa superfície onde meu olhar move-se em pequenas ondas, devagar. Embalados pela brisa piedosa, esses pobres olhos feitos de restos de chuva imitam os imensos reservatórios que dançam lentamente, atrás. Não há música em mim que possa animá-los. No gasômetro venta, mas as coisas são silenciosas. Só o grito da criança no telhado se propaga. Meu rosto na água não ousa espiá-la. Por que me chama? O que pode esperar de mim? Sou uma mulher às voltas com o que não tem volta. Faz muito frio, não me deixariam ir lá fora. Dorme menina, dorme. No gasômetro as coisas custam a passar...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Strawberry Fields Forever, The Beatles



Viver é fácil com os olhos fechados
Sem entender o tudo que você vê

Está ficando difícil ser alguém

Mas tudo parece funcionar bem

E isso não é muito importante pra mim


Deixe-me te levar
Porque eu estou indo aos
Campos de morangos
Nada é real
Não há por que esperar
Campos de morangos para sempre!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

América Latina, Latina América, Amada América!



Talvez um dia, não mais existam aramados
E nem cancelas, nos limites da fronteira
Talvez um dia milhões de vozes se erguerão
Numa só voz, desde o mar as cordilheiras
A mão do índio, explorado, aniquilado
Do Camponês, mãos calejadas, e sem terra
Do peão rude que humilde anda changueando
É dos jovens, que sem saber morrem nas guerras

América Latina, Latina América
Amada América, de sangue e suor!