sexta-feira, 29 de abril de 2011
sábado, 16 de abril de 2011
sábado, 9 de abril de 2011
Rua das Tulipas
O que pode ser feito quando já se fez de tudo?
O que fazemos quando os sonhos são grandes demais?
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Para uma avenca partindo - Caio Fernando Abreu
"Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?"
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Re-Amar, Caio F.
"Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar."
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Do Amoroso Esquecimento, Mário Quintana
Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti.
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Espelho, Sylvia Plath
Algumas coisas conseguem nos descrever com tanta precisão...
Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro -
O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada. Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração. Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.
Agora sou um lago. Uma mulher se dobra sobre mim,
Buscando na minha superfície o que ela realmente é.
Então ela se vira para aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e as reflito fielmente.
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos.
Sou importante para ela. Ela vem e vai.
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha
Se ergue em direção a ela dia após dia, como um peixe terrível.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Extremos da Paixão, Caio F.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Caio F.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
sábado, 25 de setembro de 2010
Cântico, Mário Quintana
O vento verga as árvores, o vento clamoroso da aurora...
Tu vens precedida pelos vôos altos,
Pela marcha lenta das nuvens.
Tu vens do mar, comandando as frotas do Descobrimento!
Minh'alma é trêmula da revoada dos Arcanjos.
Eu escancaro amplamente as janelas.
Tu vens montada no claro touro da aurora.
Os clarins de ouro dos teus cabelos na luz!
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
sexta-feira, 2 de julho de 2010
O Morro dos Ventos Uivantes

"Dizes que te matei, persegue-me então! A vítima persegue seus matadores, creio eu. Sei que fantasmas têm vagado pela terra. Fica sempre comigo... encarna-te em qualquer forma... torna-me louco! Só não quero que me deixes neste abismo, onde não posso te encontrar! Oh, Deus! é inexprimível! Não posso viver sem minha vida! Não posso viver sem minha alma!"
sexta-feira, 30 de abril de 2010
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Este Quarto... Mário Quintana

Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...
que me importa esse quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.
Pois o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.
A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...
domingo, 28 de março de 2010
Nowhere Man, The Beatles

Ele é um autêntico Homem de Lugar Nenhum
Sentado em sua terra de lugar nenhum
Fazendo todos os seus planos inexistentes
Para ninguém.
Não tem uma opinião,
Não sabe para onde está indo
Ele não é um pouco parecido com você e eu?
Homem de Lugar Nenhum, por favor escute,
Você não sabe o que está perdendo
Homem de Lugar Nenhum, o mundo está sob o seu comando.
domingo, 14 de março de 2010
Dentro da Noite Veloz, Ferreira Gullar
[...]
Ernesto Che Guevara
teu fim está perto
não basta estar certo
para vencer a batalha
Ernesto Che Guevara
entrega-te a prisão
não basta ter razão
para não morrer de bala
Ernesto Che Guevara
não estejas iludido
a bala entra em teu corpo
como em qualquer bandido
Ernesto Che Guevara
por que lutas ainda?
a batalha está finda
antes que o dia acabe
Ernesto Che Guevara
é chegada a tua hora
e o povo ignora
se por ele lutavas
[...]
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Satolep, Vitor Ramil

Eu, que vivo no gasômetro, tenho tomado distância de tudo o que é sólido. À margem das formas, sou reservatório de coisas desfeitas.
É meu o rosto líquido que vejo na poça de chuva esquecida pela terra sob minha janela, rosto de quem quis infinitamente comprimir os fluidos da vida na esperança de guardá-la.
No gasômetro as coisas não são sólidas, mas custam a passar. Hoje um grito de criança, sumido da varanda em meu passado, veio vibrar sobre o telhado como o canto de uma ave vindo organizar no ninho antes de morrer; ontem, foi um pardal que desceu na água. Ainda posso vê-lo, agora que partiu, capturado pela luz no álbum aberto dessa superfície onde meu olhar move-se em pequenas ondas, devagar. Embalados pela brisa piedosa, esses pobres olhos feitos de restos de chuva imitam os imensos reservatórios que dançam lentamente, atrás. Não há música em mim que possa animá-los. No gasômetro venta, mas as coisas são silenciosas. Só o grito da criança no telhado se propaga. Meu rosto na água não ousa espiá-la. Por que me chama? O que pode esperar de mim? Sou uma mulher às voltas com o que não tem volta. Faz muito frio, não me deixariam ir lá fora. Dorme menina, dorme. No gasômetro as coisas custam a passar...
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
América Latina, Latina América, Amada América!

Talvez um dia, não mais existam aramados
E nem cancelas, nos limites da fronteira
Talvez um dia milhões de vozes se erguerão
Numa só voz, desde o mar as cordilheiras
A mão do índio, explorado, aniquilado
Do Camponês, mãos calejadas, e sem terra
Do peão rude que humilde anda changueando
É dos jovens, que sem saber morrem nas guerras
América Latina, Latina América
Amada América, de sangue e suor!
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Trecho de "Hamlet", Shakespeare
Onde há um salgueiro que se inclina sobre o arroio
E espalha as folhas cinza na corrente vítrea,
Ela fazia umas grinaldas fantasiosas,
Tecendo as folhas do chorão com margaridas,
Ranúnculos, urtigas, e as compridas flores
De cor purpúrea que os pastores, sem modéstia,
Chamam com um nome forte, mas que as nossas virgens
Conhecem, castas, como “dedos-de-defunto”.
Galgando a árvore com o fim de pendurar
Essa coroa vegetal nos ramos pensos,
Maldoso um galho se partiu, e ela tombou
Com seus troféus herbóreos no plangente arroio.
Abriram-se-lhe em torno as vestes, amplamente,
Mantendo-a à tona qual sereia, por instantes:
E ela cantava trechos de canções antigas,
Como que sem noção do transe em que se achava,
Ou como criatura que, nascida na água,
A esse elemento fosse afeita. Mas, em breve,
As suas vestes, já embebidas e pesadas,
Levaram a infeliz, do canto melodioso
Para lodosa morte.
domingo, 22 de novembro de 2009
Fumaça de Cigarro

Quando foi que as nossas mãos se soltaram
E não olharam para trás, para ver o que ficou;
Quando os antigos cigarros transformaram-se somente em fumaça
Deixando no ar o cheiro de um passado próximo,
E os gritos da festa transformaram-se em um pesado silêncio.
Poderia dizer por que levou tanto tempo para sentirmos?
Por que o orgulho por tanto tempo afogou este sentimento,
E só agora ele dói?
O certo é que já não somos parte de um todo,
As mão separadas não se unem mais,
E a fumaça não pode voltar a ser cigarro.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Trecho de "Romeu e Julieta" Shakespeare

"Nesse lugar freqüentemente é visto,
A tentar engrossar com as lágrimas que chora
O fresco pranto matinal da aurora,
E as nuvens com a fumaça dos suspiros.
Logo, porém, que o sol, que alegra a todos,
No mais longínquo extremo do oriente
Do leito da manhã abre a escura cortina,
Meu filho, cheio de melancolia,
Para fugir da luz, vem para casa
E, fechando as janelas do seu quarto,
Cria artificialmente para si
Uma noite mais negra à luz do dia."
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Apesar de você, Chico Buarque
"Você que inventou esse estado, e inventou de inventar toda escuridão
Você que inventou o pecado, esqueceu-se de inventar o perdão"
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Áspero amor, Pablo Neruda
Áspero amor, violeta coroada de espinhos,
cipoal entre tantas paixões eriçado, lança das dores,
corola da cólera, por que caminhos
e como te dirigiste a minha alma?
Por que precipitaste teu fogo doloroso, de repente,
entre as folhas frias do meu caminho?
Quem te ensinou os passos que até mim te levaram?
que flor, que pedra, que fumaça
mostraram minha morada?
O certo é que tremeu noite pavorosa,
a aurora encheu todas as taças com teu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,
enquanto o cruel amor sem trégua me cercava,
até que lacerando-me com espadas
e espinhos abriu no coração um caminho queimante.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Canção Para Uma Valsa Lenta, Mário Quintana
Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...
Minha vida não foi um romance...
Minha vida passou por passar.
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.
Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches a vida
De surpresa, de encanto, de medo!
Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso... de um gesto... um olhar...
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Profecias, Raul Seixas
Tem dias que a gente se sente
Um pouco, talvez, menos gente
Um dia daqueles sem graça
De chuva cair na vidraça
Um dia qualquer sem pensar
Sentindo o futuro no ar
O ar, carregado sutil
Um dia de maio ou abril
Sem qualquer amigo do lado
Sozinho em silêncio calado
Com uma pergunta na alma
Por que nessa tarde tão calma
O tempo parece parado?
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
A morte dos girassóis, Caio Fernando Abreu

Mudando de assunto sem mudar propriamente, tenho aprendido muito com o jardim. Os girassóis, por exemplo, que vistos assim de fora parecem flores simples, fáceis, até um pouco brutas.
Pois não são. Girassol leva tempo se preparando, cresce devagar enfrentando mil inimigos, formigas vorazes, caracóis do mal, ventos destruidores. Depois de meses, um dia pá! Lá está o botãozinho todo catita, parece que já vai abrir.
Mas leva tempo, ele também, se produzindo. Eu cuidava, cuidava, e nada. Viajei por quase um mês no verão, quando voltei, a casa tinha sido pintada, muro inclusive, e vários girassóis estavam quebrados. Fiquei uma fera. Gritei com o pintor: “Mas o senhor não sabe que as plantas sentem dor que nem a gente?” O homem ficou me olhando tão pálido quanto aquele vizinho. Não, ele não sabe, entendi. E fui cuidar do que restava, que é sempre o que se deve fazer.
Porque tem outra coisa: girassol quando abre flor, geralmente despenca. O talo é frágil demais para a própria flor, compreende? Então, como se não suportasse a beleza que ele mesmo engendrou, cai por terra, exausto da própria criação esplêndida. Pois conheço poucas coisas mais esplêndidas, o adjetivo é esse, do que um girassol aberto.
domingo, 6 de setembro de 2009
Vai Passar, Chico Buarque

A nossa pátria mãe
tão distraída
Sem perceber que era
subtraída
Em tenebrosas
transações
Seus filhos
Erravam cegos pelo
continente
Levavam pedras feito
penitentes
Erguendo estranhas
catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma
alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval..."
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Bilhete, Mário Quintana
ama-me baixinho.
Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
.....tem de ser bem devagarinho,
.....amada,
.....que a vida é breve,
.....e o amor
.....mais breve ainda.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Ana Terra, parte d'O Continente, Veríssimo

Ana sentia-se animada, com vontade de viver, sabia que por piores que fossem as coisas que estavam por vir, não podiam ser tão horríveis como as que já tinha sofrido. Esse pensamento dava-lhe uma grande coragem. E ali deitada no chão a olhar para as estrelas, ela se sentia agora tomada por uma resignação que chegava quase a ser indiferença. Tinha dentro de si uma espécie de vazio: sabia que nunca mais teria vontade de rir nem de chorar. Queria viver, isso queria, e em grande parte por causa de Pedrinho, que afinal de contas não tinha pedido a ninguém para vir ao mundo. Mas queria viver também de raiva, de birra. A sorte andava sempre virada contra ela. Pois Ana estava agora decidida a contrariar o destino. Ficara louca de pesar no dia em que deixara Sorocaba para vir morar no Continente. Vezes sem conta tinha chorado de tristeza e de saudade naqueles cafundós. Vivia com o medo no coração, sem nenhuma esperança de dias melhores, sem a menor alegria, trabalhando como uma negra, e passando frio e desconforto... Tudo isso por quê? Porque era a sua sina. Mas uma pessoa pode lutar contra a sorte que tem. Pode e deve. E agora ela tinha enterrado o pai e o irmão e ali estava, sem casa, sem amigos, sem ilusões, sem nada, mas teimando em viver. Sim, era pura teimosia. Chamava-se Ana Terra. Tinha herdado do pai o gênio de mula.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Carta Anônima, Caio Fernando Abreu

"Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas são sempre bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra."
sábado, 1 de agosto de 2009
Mário Quintana, 103 anos.
Uma homenagem tardia pelo aniversário do Mário Quintana.
“Cecília, Vinícius, Manuel e Carlos sorriem mansinho, espiando Mário lá do céu, lá de cima.”
“Mas a Terra - tão azul assim, vista de longe, vista de cima - eles olham com pena. Sabem que pelo menos metade desse azul todo, depois que eles se foram, brota dali, do quartinho do Mário. Aí suspiram, tadinho, que barra!”
Caio Fernando Abreu